Traduzir

terça-feira, 1 de julho de 2014

Um relato emocionante de parto natural pélvico

72131069
Bella, nossa florzinha sortuda, decidiu vir ao mundo de bunda pra lua.
Então pensamos: Que assim seja, Bella flor!
Assim foi.
ANTES DO TRABALHO DE PARTO
Finzinho de setembro, estava próxima a data de previsão de parto de nossa pequena mocinha que era 5 de outubro. Tudo certo para o parto domiciliar, mas como a parteira era de BH, eu continuava fazendo o pré-natal com meu médico em São João del-Rei. No momento certo, ela iria até nossa casa para nos acompanhar e guiar no parto.
Como no último ultrassom nossa menina estava pélvica, meu médico decidiu pedir um novo para ver se ela já havia virado. (Eu tinha praticamente certeza que ela tinha virado, pois eu havia notado uma grande diferença nos lugares onde ela chutava na minha barriga nos últimos tempos e havia passado por dois exames de toque, um dele e outro da minha parteira, que realmente achavam que ela estava encaixada. Eu só achava estranho não ter sentido dor na virada dela visto que ela teria virado na 35, 36 semana…mas ok.) Fato é que ao sair o resultado do ultrassom me senti abalada: minha pequena estava sentadinha, talvez tenha virado e depois desvirado ou talvez sempre esteve sentadinha mas como seu bumbum estava super encaixado na minha bacia, confundiu os dois profissionais que me examinaram. Ah, e também estava com a estimativa de peso de 4kg 100.
Ao ver o resultado meu médico me chamou no consultório e me explicou com muita calma que não seria possível o parto normal naquelas condições: bebê pélvico e com mais de 4Kg. Assumiu que ele não tinha conhecimento para tal e que achava arriscado o parto normal nessa situação. Para eu ter minha filha, teria que fazer uma cesárea.
A notícia me abalou bastante, mas algo dentro de mim não me deixava pensar em cesárea, não sei explicar o que era, mas eu tinha muita esperança de fazer o parto normal e só me imaginava parindo dessa forma. Meu marido o tempo todo esteve do meu lado me acalmando e me lembrando que o mais importante é que nossa pequena estava bem e saudável, só estava sentadinha. Faríamos o que fosse melhor para ela e para mim e isso era o que importava.
Foi então que ele me lembrou do Hospital Sofia Feldman que havíamos visitado no início da gestação como uma opção para o parto.
Ligamos para, nossa parteira, que nos indicou o Dr. Lucas que atende lá. Ele poderia me examinar, conferir se ela ainda estava mesmo sentadinha (pois eu estava fazendo exercícios para que ela virasse) e, caso fosse recomendável, poderia fazer a manobra de versão.
Pegamos o carro e fomos para BH direto para o hospital pois era dia do plantão do Dr. Lucas. Fomos muito bem recebidos e ele confirmou mais uma vez: ela está sentada e tem o peso próximo a 4kg. Ele nos falou sobre a manobra e topou fazê-la naquele mesmo dia visto que nem tínhamos lugar para ficar em BH. Tomei a medicação que relaxa o útero e tentamos a manobra aproximadamente 2h da madrugada. Nossa flor mudou um pouquinho a posição, mas não virou, ficou apenas transversa. Ele conseguiu girá-la até um ponto, mas minha placenta estava localizada exatamente no lado onde ela deveria passar com a cabecinha, então, ela não virava. Seria arriscado forçar mais pois poderia descolar a placenta. A manobra de versão dói, me mantive forte pensando que estava fazendo o melhor pela minha filha pois estava facilitando a chegada dela no mundo. Depois conversei muito com ela explicando qual procedimento ela havia passado e porque e a acalentando caso tivesse se sentido assustada com a interferência.
Voltamos para São João e a partir daí seguiram dias de exercícios voltados para a tão esperada cambalhota, além de muitas conversas com a barriga. Tínhamos sempre esperança de que ela virasse mas tomamos a decisão de irmos para BH esperar o momento em que eu entrasse em trabalho de parto. Em São João a palavra final era cesárea, em BH ainda tínhamos a esperança do parto normal. Ao notar que eu já estava perdendo o tampão mucoso apressamos a viagem e sabíamos que voltaríamos para casa com nossa florzinha. Não sabíamos quantos dias ficaríamos fora pois mesmo que eu tivesse que fazer uma cesárea já tinha decidido que entraria em trabalho de parto para respeitar a hora que nossa filha estivesse nos avisando que estava pronta…então, vamos esperar.
Os dias que seguiram foram de mais exercícios voltados para a virada da pequena grande moça, (alguns bem exaustivos, pois aconteciam de duas em duas horas e tinham a duração de 20 min cada em posições um pouco desconfortáveis para quem está com um barrigão), muitas histórias contadas, canções cantaroladas, carinho, conversas, conversas e mais conversas com a barriga. Comecei a fazer os tratamentos oferecidos pelo Sofia Feldman: aurículo terapia, mocha bustão, ventosa, acupuntura e escalda-pés, descansava bastante, íamos ao cinema e passeávamos. Confesso que às vezes me sentia angustiada e insegura, mas algo me impulsionava a seguir firme na espera. Eu havia me informado muito sobre a importância desse momento e não poderia deixar que a ansiedade me fizesse mudar de ideia.
Sentimos, eu e meu marido, em um dado momento, que não deveriamos mais pedir à nossa pequena que virasse e também que eu não deveria mais fazer os exercícios que a impulsionavam a tal. Aceitamos que se ela quisesse vir de bumbum, que viesse. Não era a toa que ela estava assim, esta já era a sua história e tinha que ser respeitada.
Continuamos na espera do grande momento, da grande chegada… tudo dará certo e ela chegará ao mundo como quiser e como deve ser.
ESTOUROU A MINHA BOLSA
Na madrugada do dia 2 de outubro, por volta de meia noite me levantei para ir ao banheiro, fiz xixi, voltei para cama e disse ao meu marido que havia acordado com a minha movimentação: “Estou com uma colicazinha.” De repente sinto uma água escorrer pelas minhas pernas involuntariamente. “Estou perdendo líquido, acho que minha bolsa estourou.” eu disse. Meu marido assustado levantou rápido e disse “É sério? É a bolsa? O que você quer fazer? Ligue para Odete para vermos se vamos para o Sofia.”
Eu não estava sentindo dor, mas não havia dúvida de que a bolsa havia estourado pois descia água sem parar molhando todo o chão.
Ligamos para parteira que nos orientou a ir para o Sofia conferir se eu estava mesmo com bolsa rota. Separamos tudo que o nervosismo nos deixou lembrar e fomos para o hospital.
Não demoramos a ser atendidos, mas sabíamos que o Dr. Lucas não estava no hospital pois ele havia nos avisado que estaria em um Congresso em João Pessoa essa semana. Precisaríamos dar a sorte de sermos atendidos por um dos médicos que ele nos listou como “médicos que topam fazer um parto pélvico natural”. Ao entrar na sala e ler o nome do médico plantonista vi que não era um dos nomes da lista. “Ai, o que fazer?” Ele me examinou, viu que a bolsa havia mesmo estourado, que eu estava com 2 cm de dilatação mas que ainda não estava efetivamente em trabalho de parto. Disse que pela minha situação de bebê pélvico, mais de 4kg e bolsa rota eu deveria ser internada e que, por ele, teria que ser feita a cesárea.
Explicamos que gostaríamos muito de ter o parto natural e ele nos disse que o plantonista da manhã era o Dr Edeval (um dos nomes da lista) e que ele, provavelmente, toparia o parto natural pélvico. Perguntou se queríamos esperar pois, pelo que ele estava avaliando, não nasceria até este horário e dissemos que sim.
Fomos para sala de parto “Dona Beja”. Lá tinha uma cama grande, banheiro com água quente e fria, bola de pilates, banqueta de parto, banheira… e um banquinho para meu marido (tadinho), que ficou exausto. Fomos muito bem recebidos e muito bem cuidados por enfermeiras que foram verdadeiros anjos. Elas me explicaram que acompanhariam meu trabalho de parto e que, se ele estivesse evoluindo bem, seria possível o parto natural pélvico. Me prepararam emocionalmente para a cesárea, caso fosse necessária, mas eram muito esperançosas com a realização das coisas da forma como eu queria – o mais natural possível.
As contrações vinham cada vez mais fortes e eu sentia muito sono pois a esta altura já deveria ser umas 4h da madrugada. Tentava deitar, mas sentia um enjoo fora do comum, cheguei a vomitar várias vezes e a ter diarreia. Lembro que meu marido anotava todas as contrações em um papelzinho que trouxemos do hotel e que tentava conversar comigo algumas horas e eu não conseguia prestar atenção nele. Assim que a contração passava eu dizia: “Agora pode falar”. O coraçãozinho de nossa florzinha era auscultado várias vezes para garantir que tudo estava bem, o que me deixava mais tranquila.
Fui para o chuveiro e me deu um pouco de alívio deixar a água cair nas costas, além de aliviar o suor, eu transpirei demais durante o trabalho de parto. Voltei para cama e comecei a notar que algumas posições diminuíam minhas contrações e outras as estimulavam. Eu precisava lembrar de tudo que havia estudado durante a gestação, era a hora de colocar as coisas em prática. A respiração longa e profunda eu estava conseguindo fazer, agora era necessário lembrar das posições e conseguir fazê-las também.
Perto de 7h da manhã nosso primeiro anjo, a enfermeira Adelaide, terminou seu plantão e veio se despedir. Antes de ir ela me fez um exame de toque e constatou 6 cm de dilatação, significava que estávamos indo bem, com uma boa evolução de trabalho de parto, boa contração e boa dilatação. O médico chegaria às 7h e tudo estava caminhando bem. O coraçãozinho da nossa bebê era auscultado com mais frequência a medida que o trabalho de parto avançava.
Com a mudança do plantão apareceu nosso segundo anjo, a enfermeira Elis. Sim, o mesmo nome que o meu. Mais uma vez me senti segura nas mãos de uma pessoa tão carinhosa e respeitosa. Ela se apresentou e disse que tudo daria certo, e eu sempre acreditava.
Outras pessoas também acompanharam meu trabalho de parto: uma estudante que observava tudo, uma médica residente que foi quem acabou fazendo meu parto e as queridas enfermeiras  que me acompanhariam meu parto em casa, que não foi possível.
Por sugestão da Elis fui para banheira e foi realmente relaxante. A água acalmava meu corpo principalmente entre uma contração e outra. Recebi massagens na lombar que a Janaína delicadamente fez e sempre palavras de incentivo. O coraçãozinho da Bella continuava sendo monitorado e a esperávamos.
As contrações eram cada vez mais fortes e o silêncio não era possível. Alguns gemidos aliviavam as ondas de dor e segurar nas mãos de quem estava por perto também. Me lembro que em uma das contrações estava sem a mão do meu marido por perto e comecei a procura-la instintivamente como quem procura um porto seguro. Quando a encontrei, o acalanto daquele toque me deu mais força. Prossegui sem medo.
Eu sabia da minha força e sabia que havia tomado uma decisão de muito amor e respeito em relação à nossa filha e ao meu corpo, então, não pensei em desistir em nenhum momento. A dor vinha forte e eu desejava que chegasse logo o nascimento, mas em nenhum momento pensei em desistir dos designos que Deus e a natureza haviam preparado para nós. Eu estava protegida pelas forças celestiais que regiam a minha coragem, pelas minhas orações e as dos meus familiares e amigos, pelo companheirismo do meu marido e pela certeza de estar fazendo o melhor pela nossa filhinha.
Ouvi que mediriam novamente minha dilatação quando desse 11h e, nossa, só Deus sabe o quanto eu esperei dar 11h olhando o enorme relógio que era bem visível na sala. Aquela medição me diria que tudo estava evoluindo bem e que seria possível prosseguir naturalmente.
Fato é que dentro da banheira mesmo já iniciei as contrações de puxo. Então, a tão esperada medição da dilatação às 11h não aconteceu. Risos. Estava bem claro que minha dilatação estava completa devido as contrações de puxo e me orientaram a sair da banheira pois a chegada da Bella estava próxima. Todos vibravam ao meu redor dizendo: “ Vai dar certo, Elis! Vai nascer! Você está indo muito bem.” A médica residente até me perguntou qual era o livro que eu tinha lido e estudado pois eu sabia fazer tudo direitinho: respiração, posições que ajudavam a abrir a região pélvica, etc. As vezes eu me rendia ao cansaço e deitava de barriga pra cima mas logo me lembrava que eu tinha que mudar de posição pois seria melhor para nós. Aliás, quando eu estava de barriga pra cima, minhas contrações diminuíam e o trabalho de parto evoluía mais lento.
Fui para cama, descansei um pouco e novamente me lembrei que não ajudava estar deitada. “Força, vamos lá, Elis!” Uma voz interna me dizia que eu sabia o que tinha que ser feito. Fiquei de cócoras com ajuda do meu marido que me segurava pelas costas, mas minhas pernas estavam fracas então pedi que trouxessem a banqueta de parto, assim eu poderia estar de cócoras mas com apoio nas pernas. Perfeito! Bella ia nascer assim.
Em certo momento olhei para frente e vi uma bela imagem: enfermeiras, estudantes, a médica residente, o médico mais experiente, a pediatra, as nossas doulas e toda uma equipe parada. Sim, parada, esperando a chegada da nossa florzinha. Era uma atitude de muito respeito em relação à nossa escolha e ao momento em que a Bella quisesse chegar. Apesar de tudo pronto para uma possível intervenção ninguém interferia em absolutamente nada, somente esperava para que, se fosse necessário, agissem para minha segurança e da Bella.
De repente, um sorriso da querida parteira: “Eu vi um bumbum branco, ela está chegando, Elis”. Colocaram um espelhinho embaixo das minhas pernas para que eu pudesse ver e, na próxima contração, eu vi, tinha um bumbum apontando na minha vagina. Apesar da emoção achei bem, digamos, incrível, como ela poderia passar por ali. Resultado: decidi não olhar mais o espelhinho. Risos. Senti a Bella mexendo dentro de mim algumas vezes quando ela estava quase nascendo e foi uma sensação deliciosa. Nesta hora não doeu, pois foi entre uma contração e outra, pelo contrário, foi estimulante, em breve ela estaria mexendo em meus braços.
Mais umas duas ou três contrações nas quais eu sentia uma vontade incontrolável e natural de fazer força e de repente, com rapidez e como que deslizando desceu todo o corpinho da Bella. Senti neste momento um incrível alívio da dor mas logo ela voltou um pouco mais leve pois ainda era preciso sair a cabeça. A médica residente Stéfane amparou o corpinho da Bella e, sob orientação do Dr. Edeval, realizou uma manobra que, rapidamente, fez nascer a cabecinha dela.
Foto ilustrativa
Foto ilustrativAcho que entre a saída do corpinho e da cabeça não se passou mais que um minuto, apesar de ter parecido uma eternidade para meu marido que me amparava naquele momento. Todos olharam para Bella na espera do choro e quando ela abriu o berreiro foi diretamente para os meus braços com o papai dela do lado, exatamente como eu havia prometido para ela que seria quando ela ainda estava no meu ventre e conversávamos sobre o grande momento o qual ela deveria passar: o parto.
1058741_656021101111364_1348944529_n
Elis e sua bebê
A felicidade tomou conta de nós e a sensação de êxtase tomou conta do meu corpo. Tanto que fui suturada enquanto a segurava e amamentava e realmente não me preocupei com as lacerações que tive. Olhei para meu marido e disse: “Conseguimos!”. Cantei para Bella canções que a embalavam em meu ventre durante a gestação, pedi que viesse algo para eu comer, visto que eu não consegui comer durante o trabalho de parto e estava com muita fome e, em menos de 45 minutos, recebi as primeiras visitas, os avôs e as avós paternas e maternas.
Bella Ferreira Gonçalves Pereira nasceu forte e saudável no dia 2 de outubro de 2013 com 52 centímetros e 4Kg 115 em um lindo parto natural pélvico no Hospital Sofia Feldmam em Belo Horizonte. Apgar: 9, no primeiro minuto e 10, cinco minutos após o nascimento. O dia estava ensolarado apesar de, imediatamente após o nascimento dela, ter chovido bem forte e rápido. Era o céu que a abençoava e lhe dava boas vindas ao mundo dos homens.
Agradeço a todos envolvidos no nascimento de minha filha e também no acompanhamento anterior ao nascimento pelo respeito, carinho e por acreditarem no meu corpo.
Bebês nascem! E nós, mulheres, fomos feitas para viver esta benção. Que nunca nos tirem esse direito, essa Bella sina pois somos fortes, corajosas e temos corpo, mente e alma preparadas para tal.
Espero contribuir com meu relato de parto.
Grande abraço.
Luz!
Elis Ferreira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário