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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Por que não fazer exame de toque

Original em Olhar Mamífero - Vila Mamífera
Por Kalu Brum
exame-toque
Um dos procedimentos de rotina dos pré-natais é o exame de toque, independentemente da idade gestacional. Mas este procedimento, como a maioria dos exames e intervenções, só pode trazer benefícios quando não é banalizado.
O exame de toque serve basicamente para avaliar a evolução da dilatação no trabalho de Parto, apresentação do útero e posicionamento do bebê.  O que esperar de uma mulher com 24 semanas? Que o colo esteja grosso e fechado, o bebê na posição que desejar (não estará encaixado) e alto. E se a mulher não apresenta qualquer queixa, para que realizá-lo?
Se uma mulher apresentar contrações prematuras, vale avaliar se as mesmas indicam um trabalho de parto precoce. Aí sim, depois de investigar se não se trata de contrações sem ritmo (Braxton), infecção urinária, pode-se fazer um exame de toque. Mas ele é mera especulação.
Acompanhei uma gestante que com 32 semanas fez o exame de toque e o médico verificou que ela tinha 2 cm de dilatação e colo afinado. Ela tomou corticóide para amadurecer o pulmão do bebê no risco de parto prematuro. Com 35 semanas, se não me falha a memória, tinha 3 ou 4 cm. Mas sem contrações ou seja não estava em Trabalho de Parto. Teve um parto natural com 39 semanas.
Então, o que o exame de toque adiantou? Nada.
Em trabalho de parto a questão do exame de toque é uma faca de dois gumes. Ele é feito para protocolar a mulher que deve dilatar X cm por hora. Quando estaciona em X cm considera-se parada de progressão e aí vem as medidas intervencionistas. Uma analgesia para ver se a mulher ( e o útero) relaxam e a dilatação progride ou ocitocina para ajudar nas contrações. A medicina tradicional desconsidera os fatores emocionais.
Imagine que você está com uma sensação de grande dor e passou 5 horas com determinada dilatação. Medem novamente e você não saiu do lugar. Essa informação vai fazer com que a mulher desista pensando que, se em X horas ela não dilatou, precisará de mais X para parir. E na mente dela ela decreta: não vou agüentar.
Mas o que acontece é que a dilatação não é tão precisa. Existe a relação ocitocina X adrenalina. Se quiser aumentar a dilatação é preciso aumentar a ocitocina natural. E para aumentar a ocitocina é preciso de:
- Pouca Luz
- Silêncio
- Privacidade
- Não observação
- Ambiente quente e confortável
- Beijo na boca do marido
- Massagem
- Paz
Luciana Costa secretando Ocitocina Natural
Luciana Costa secretando Ocitocina Natural
Quando a mulher pára de dilatar é aí que aumentam o monitoramento, a observação e a adrenalina da mulher (e da equipe) vai nas alturas inibindo a ocitocina.
Lá vem a ciência solucionar problemas para os quais ela mesma causou. Ocitocina sintética, dor, adrenalina, anestesia, mais ocitocina. Uma vez que a ocitocina sintética entra na corrente sanguínea da mulher, toda a ocitocina que ela liberaria naturalmente, antes, durante e depois do parto é bloqueada.
E isso significa o quê?
Que depois do parto, momento em que é necessária a liberação do hormônio para criar vínculo com o bebê, segundo o obstetra Michel Odent é o êxtase (coquetel de hormônios que sentimos no pós parto que faz com que criemos vínculo de amor com a cria) ele não se faz presente.
A ocitocina é um hormônio natural presente e fundamental para a hora do parto. Em grande parte dos partos normais em todo o planeta, para acelerar a contração do útero e tornar o parto mais rápido, a ocitocina é usada de forma padronizada, é o caso do Brasil. O famoso “sorinho” torna as contrações extremamente fortes e doloridas, levando muitas vezes a alteração do batimento cardíaco do bebê, fazendo-se necessário o uso de anestesia e as cascatas de intervenções físicas e medicamentosas.
Segundo Odent, por ser um hormônio, a ocitocina passa pela barreira placentária e chega à corrente sanguínea do bebê, atingindo o cérebro da criança. Segundo o obstetra, o uso da ocitocina sintética pode gerar seres humanos mais agressivos por ser um hormônio diretamente ligado a socialização. Ele o chama de “hormônio do amor”, porque está presente na relação sexual, na amamentação e no parto e pós parto, facilitando a relação instintiva entre mãe e filho.
Outra conseqüência é a incapacidade ou dificuldade de produzir ocitocina em outros momentos da vida, uma vez que sua versão sintética bloqueia a produção de ocitocina natural. Atingindo o cérebro da criança, este ser humano pode ser incapaz de produzir este hormônio, tanto na hora do parto, como em outras situações de sua vida. Sem a produção de ocitocina ficamos incapacitados de sentir prazer.
Voltando para a questão do toque, já vi o procedimento ser bem usado em algumas ocasiões. Em um Parto Domiciliar bastante demorado (mais de 30 horas) avaliou-se a possibilidade de romper a bolsa uma vez que a mulher estava com dilatação completa e o bebê não descia. Para saber se o bebé estava alto e a evolução do parto depois de tanto tempo, para que a família e parteiras avaliassem uma possível transferência, optou-se pelo rompimento artificial da bolsa e o bebe nasceu.
Outro caso, a mulher estava bem cansada e quis saber a quantas andava a evolução do parto. A enfermeira avaliou 8 cm e um rebordo de colo. Segurou o rebordo e o bebê nasceu uma hora depois.
Então, como tudo na vida, bem usada a intervenção pode apresentar benefícios. A banalização é que causa problemas.
Vale o alerta de que muitos obstetras não humanizados costumam descolar as membranas para acelerar o início do trabalho de Parto por volta das 39 semanas. Algumas vezes não avisam que vão fazer e nem a finalidade. E só é possível fazer isso quando se faz toque (geralmente um toque dolorido).
No Trabalho de Parto, com médicos não humanizados, exame de toque pode levar o médico romper a bolsa sem a mulher querer.
Não aceitar o exame de toque é se poupar disso também. Perto do parto saber que o colo está amolecido e com X cm pode causar ansiedade.
Sem contar que, mesmo com luva, fazer toque aumenta o risco de infecção, principalmente se a mulher estiver com bolsa rota. Mas experimente estar com bolsa rota  para saber quantos exames de toque vai receber. Parece que muitos médicos só aprendem a fazer cesárea, toque e ultrasson para serem obstetras.
Vou deixar bem claro que não sou “contra” os procedimentos. Nem uso de ocitocina, nem anestesia. Todo e qualquer procedimento quando banalizado representa risco. Por exemplo, locais em que não há assistência obstétrica ou aqueles com índices altos de cesáreas possuem índices de morte neonatal e infantil semelhantes. Ou seja, a falta de recursos ou excesso (mal utilizados), são prejudiciais.
A princípio devemos acreditar que nosso corpo tem plena capacidade de parir, sem drogas e intervenções, mas se abrir para a possibilidade de valer-se de recursos quando acabarem as forças físicas e emocionais para prosseguir.
Na minha opinião um parto com analgesia (pouca) e ocitocina (pouca) é melhor que uma cesárea. Uma cesárea para salvar vidas.  
O risco, em tudo, é a banalização.
E você, o que pensa do exame de toque?

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Meu bebê é grande, mas eu sou um mulherão!

Texto retirado do facebook, fanpage "O Renascimento do Parto - O Filme"
Escrito por Ana Cristina Duarte, obstetriz


"Bebê grande não é indicação de cesariana. Quer dizer então que a natureza preparou um bebê dentro do útero de uma mãe que não tem como sair? Mais ou menos como um marceneiro montar um armário dentro da oficina que não tem como sair pela porta? Bom, o marceneiro burro pode até perder o armário, paciência. Mas a natureza não é burra, e não tem caché energético para bancar bebês que são feitos por 9 meses e depois não podem sair, matando a si mesmos e às suas mães.
Na natureza, nos últimos 100 mil anos, cada vez que uma mutação genética fazia um bebê ser gigantesco para sua mãe, o que acontecia era o óbito de ambos. Esses genes malucos de bebês gigantes jamais puderam se reproduzir e perpetuar em nossa espécie. O tamanho dos nossos bebês não é fruto do acaso, do sorteio. Ele foi moldado pela seleção natural ao longo desse período. Curiosamente nos últimos 40 anos, que é aproximadamente a idade da indústria da cesárea no Brasil, começaram a pipocar os incontáveis casos de bebês que não podem nascer por serem enormes.

Vamos aos fatos:

1) Não há como saber o peso dos bebês no útero. A ultrassonografia é uma tecnologia absolutamente inapropriada para cálculo de peso. Aparelho de ultrassom transforma onda sonora em imagem, e a imagem é medida por um computador, que joga tudo numa tabela internacional e dá um peso estimado. Não é de se surpreender que o erro chegue a 20% e que albuns bebês nasçam com até 1 kg de diferença entre o estimado e o real.

2) A bacia das mulheres têm flexibilidade através de seus ligamentos, que é aumentada pela relaxina, um hormônio que tem níveis elevados durante a gestação. A bacia interna (que é por onde o bebê passa) não tem como ser medida com precisão. Tamanho de nádega materna não é tamanho de bacia. Uma mulher pode ter um bumbum bem grande (como essa que vos escreve) e uma bacia pequena internamente (não é o meu caso). Outra pode ser magérrima, tipo Gisele Bundchen com fome, e ter uma bacia interna muito grande.

3) Os ossos da cabeça do bebê são soldos (a famosa "moleira" é justamente um dos espaços entre esses ossos). Durante o trajeto do canal de parto, os ossos se sobrepõem, formando um cone. Quando o bebê nasce, sua cabeça tem quase o formato de um ovo. Em poucas horas esse cone se desfaz e a cabeça fica redonda. Por isso também, as medidas do crânio do bebê calculadas pelo ultrassonografista não servem para absolutamente nada. Só servem para diagnosticar possíveis patologias fetais e predizer problemas de saúde do recém nascido. Essas medidas podem até ser úteis a um neonatologista, mas nunca a um obstetra.

4) Existe a possibilidade do bebê adentrar a bacia pélvica de forma inadequada e não passar. É a chamada desproporção céfalo-pélvica (DCP). Esses são os bebês que poderiam morrer se não fosse pela cesariana. Porém o único modo de de diagnosticar uma desproporção é aguardando a mulher entrar em trabalho de parto, aguardando toda a dilatação do colo do útero (total, ou praticamente total), aguardar algumas horas (por volta de quatro ou mais, se o bebê estiver bem), sem que ele desça pelo canal de parto. Ainda assim é importante se tentar pelo menos uma analgesia por algumas horas antes de se decidir por uma cesariana por DCP.

5) Já assisti desproporção em bebês de 2500g e já vi bebês de 4700g nascerem em partos muito rápidos. Em outras palavras, o peso não tem NADA A VER com passar ou não passar. Já vi mulher de 1,80m ter desproporção e mulher de 1,40m ter parto muito rápido e fácil. Em outras palavras, tamanho de mulher não tem NADA A VER com passar ou não passar. O tamanho do marido também não tem qualquer importância nessa equação.

6) A altura uterina não tem qualquer utilidade para se determinar se um bebê vai passar ou não, pois ela depende de muitos outros fatores que não o peso do bebê.

7) Bebês grandes não tem maiores chances de "rasgar" os tecidos da mulher durante seu nascimento. O risco de laceração ocorre principalmente pelas intervenções (ocitocina, Valsalva, litotomia, Kristeler) e pela velocidade da saída do bebê. Técnicas de preparação do períneo durante a gestação têm sido promissoras no sentido de evitar lacerações de períneo e devem ser empregadas não importa o tamanho estimado do bebê.

8) Distócia de ombros, quando o ombro fica preso depois do nascimento da cabeça do bebê, é um evento muito raro, que fica um pouco mais provável com o uso de manobras como o fórceps e kristeler. Mais da metade dos raros casos de distócia acontece em bebês que não são considerados grandes. Seriam necessárias mais de 300 cirurgias cesarianas em gestações de bebês supostamente grandes, para evitar um único caso de distócia de ombros. Essas 300 cirurgias certamente fariam muito mais mal a essas 300 mães e 300 bebês do que as consequências em geral passageiras de uma distócia de ombros.

9) Tamanho de vagina não tem nada a ver com essa questão. Se a mulher tiver algum problema nesse sentido, pode até solicitar a possibilidade de uma analgesia para o final do parto, para não sentir a passagem do bebê, caso entre em pânico durante o período expulsivo. De toda forma, a vagina é composta por tecidos musculares, que são muito flexíveis. A DCP se refere aos ossos da pelve materna, e não aos tecidos moles.

10) Não existe bebê tão grande que pode "entalar". O ponto mais estreito da bacia é uma linha imaginária que passa pelas duas espinhas isquiaticas. Ou o bebê passa ou ele não passa por esse ponto. Se o bebê não passar pela linha, ele nasce por cima. Se passar, nasce por baixo. Não existe um "purgatório" na bacia, de onde a criança jamais poderá sair. Sempre dá para nascer, por baixo ou por cima.

Em resumo, eu considero prática de má fé qualquer indicação de cesariana baseada em medidas, seja de altura uterina, tamanho de cabeça, peso calculado pelo ultrassom, medida da bacia por raio X, tamanho do bumbum, número de calçado ou tamanho dos ombros do marido estivador."

Por Ana Cristina Duarte, obstetriz - GAMA, Grupo de apio à Maternidade Ativa

(ps: sim, sim... a foto é tratada, uma brincadeira em relação ao conteúdo do artigo)

terça-feira, 29 de julho de 2014

O pai, a revolução masculina e a amamentação - em busca da paternidade ativa

Original em Cientista que virou mãe, por Ligia Moreiras Sena

Ontem li e compartilhei um texto publicado em setembro do ano passado na Revista TPM com o título de "O Novo Pai". Belo texto de autoria da roteirista e escritora Antonia Pellegrino que fala sobre o novo papel que alguns homens decidiram assumir como pai; uma forma de ser pai que é fruto da revolução feminina, mas também de uma maior consciência sobre criação de seres humanos; um pai que assume sua paternidade tanto quanto a mãe assume sua maternidade. Aquele pai que não vê os cuidados com os filhos como "ajuda", porque quem ajuda está sempre fazendo um "favor"; ele vê a criação dos filhos como função tão sua quanto da mãe. A autora traça um paralelo entre o que ela chama de "pai tradicional" - caracterizado como sendo aquele cara que divide os custos do filho com a mãe mas não a responsabilidade sobre ele, e que leva sua vida normalmente durante a gravidez, saindo, bebendo, voltando tarde, reclamando que a mulher mudou, e que, após o nascimento, chega à noite, faz um carinho e dorme, achando que dar banho é o máximo que pode fazer, vangloriando-se por isso.

Esse é um assunto da máxima importância, porque de nada adianta um mundo de mulheres espalhadas por aí buscando serem as melhores mães que podem ser, enquanto em casa vive um ser que não está assim tão preocupado com a forma com que cria os filhos - ou enquanto o pai de seus filhos vive por aí a esmo, sem se tocar do prejuízo que sua negligência pode causar ao filho e ao mundo. De nada adianta uma maternidade consciente e ativa enquanto a paternidade estiver sendo negligenciada, fato.  Ou a gente cria essas crianças integralmente, ou o trabalho continuará pela metade.

Também de nada adianta um homem engajado e preparado para auxiliar se os serviços de saúde não souberem acolhê-lo, prepará-lo, discutir com ele todos os aspectos referentes à saúde da família. Muitos homens paternalmente ativos têm se sentido marginalizados durante a gestação da esposa, durante o parto ou após. Pouca - ou nenhuma - atenção é dada pelos próprios profissionais da saúde ao papel do pai em todas as fases da criação dos filhos, desde antes do nascimento, o que aponta também para a reformulação do atendimento e para a criação de políticas públicas que incentivem e garantam a participação masculina.

Em meu caso individual, tenho a alegria de dividir com meu companheiro os cuidados com minha filha. Essa é a terceira experiência de paternidade dele e a primeira, de fato, integral, por diferentes motivos, inclusive (mas não só) por maturidade dele e semelhança entre nossos pontos de vista.

Isso é fruto da disposição dele de atuar, de estar junto, de estar presente, mas também foi e é fruto de nossas escolhas e lutas e da minha aceitação. Procuramos apoio na gestação, no parto e no pós-parto. Mudamos a vida de forma que a participação dele fosse valorizada. Ele transferiu para a casa a totalidade de suas atividades - perdendo, nessa, um bom número de interações que lhe trariam mais trabalho e mais dinheiro. Eu soube acolher essa incursão na criação da nossa filha. Pode parecer mentira, mas muitas mulheres não aceitam a presença igualitária do pai na criação dos filhos, o que é, por si só, um sério impedimento à paternidade ativa...

Ou seja, há que se estimular os homens a serem pais verdadeiros, presentes, participativos? Sem dúvida. Mas há também que saber acolher esses novos homens, porque eles precisam de acolhimento. E há também que partir do próprio coletivo masculino a vontade de ser reconhecido como importante na questão da criação dos filhos, e não como acessório ou apenas garantia financeira.


Nós, mulheres, estamos em plena revolução feminista (as pessoas acham que ela aconteceu há 40, 50 anos, mas eu não acho; acho que a estamos vivendo todos os dias, do contrário não teríamos que lutar por coisas absolutamente básicas à condição feminina, e ainda lutamos...).


Sabe o que faltaA Revolução Masculina. Não a revolução do macho. A revolução do novo homem. Esse, com quem andamos encontrando pela vida com cada vez mais frequência e que é bacanudo.


Sinto uma satisfação imensa por ver minha filha valorizar tanto a mãe quanto o pai e de não fazer distinção de qualquer tipo. Não há, nesta casa, nenhum tipo de atividade que seja feita somente pela mãe ou somente pelo pai, fazemos tudo o que a Clara precisa juntos. E ela sabe disso. Na página do blog no Facebook, muitas mulheres compartilharam, abaixo do link com o texto que mencionei acima, suas experiências bacanas com os pais de seus filhos, homens que estão mudando a cara da paternidade, homens "que estão grávidos", que "amamentam", que cozinham para os filhos, que leem livros sobre maternidade/paternidade, que estão desenvolvendo a intuição sobre o que o filho precisa, que estão se dedicando a lerem os sinais que as crianças mandam, coisas que há não muito tempo eram vistas somente entre mulheres. Ainda temos muito a caminhar, mas já caminhamos um bocado em direção a uma maternidade/paternidade integral.

Tenho a mais plena convicção de que a participação ativa do pai ajuda a garantir uma boa gestação, facilita o trabalho de parto, torna o parto e nascimento um momento mais significativo, facilita a passagem da mulher pelo puerpério - esse portal de mudanças ainda tão desconhecido -, ajuda a garantir o sucesso da amamentação, facilita a volta da mulher ao trabalho, torna esses processos mais fáceis e menos dolorosos. O homem está se construindo como novo ser humano à medida que se constrói como novo pai, e esse processo traz inúmeros benefícios não só à mulher, mas a toda a família.

É o caso da amamentação.
Grande parte das mulheres que tiveram experiências bonitas de amamentação afirmam terem tido apoio do pai de seus filhos. Posso falar por mim: a presença e apoio do pai da minha filha foi algo insubstituível. Nós não pudemos contar com a ajuda de ninguém quando a Clara nasceu, éramos - como somos até hoje - apenas nós três. E ele esteve ao meu lado ativamente em todos, absolutamente todos, os momentos difíceis de início de maternidade. Mas os efeitos dessa presença sobre a amamentação foi algo que realmente me marcou.


Então, inspirada por essas belas experiências de paternidade, compartilho aqui um artigo de revisão publicado recentemente (2012) em uma revista de pediatria e que tem como título "Apoio paterno ao aleitamento materno: uma revisão integrativa". A pesquisa foi conduzida por um grupo de pesquisadores formado por uma mulher e dois homens, coisa que achei muito bacana. Um artigo de revisão é uma publicação fruto de um trabalho de pesquisa teórica sobre tudo o que já foi publicado a respeito de um determinado assunto. Eu, particularmente, adoro revisões porque nos dão um apanhado geral e nos localizam no problema, além de reunir em um só diferentes trabalhos. Você pode acessar o artigo na íntegra aqui, mas fiz uma seleção dos trechos que considero mais relevantes no contexto da nova paternidade e apresento-os abaixo.

Mas já dou uma dica: se você é mulher, é legal que leia. Mas não deixe de indicar a um homem. Mande o link ou imprima e entregue. Pode ser seu companheiro, seu irmão, seu amigo, seu vizinho, seu pai. É importante que eles saibam que são importantíssimos, tão importantes quanto nós no estabelecimento de uma criação afetuosa e integral. Pais ativos contribuem para a formação de novos pais ativos.

Segue, então, os trechos que selecionei por considerá-los fundamentais:

  • A  amamentação  sofre  fortes  influências socioculturais. Na tentativa de incentivar a amamentação, muitas campanhas trazem como slogan “amamentar é um ato de amor” e, na lógica descrita anteriormente, prover alimento  aos filhos é possível apenas para as mulheres. Neste contexto,  a mãe fica sendo a única responsável pelo sucesso do aleitamento materno e o não aleitamento ou o desmame precoce. Esse tipo de abordagem pode ser prejudicial, uma vez que impõe exclusivamente à mãe um fardo que deveria ser dividido com seu companheiro, familiares e profissionais de saúde.Mulheres  entrevistadas no período puerperal revelaram a necessidade de  outra  pessoa  para  ajudar,  esclarecer  e  acompanhar;  os familiares e pessoas significativas devem agir como fontes de ajuda, e os profissionais de saúde, principalmente os de enfermagem e pediatras, como fontes de informação.
  • Quanto  à  ajuda  familiar, destacam-se como entes mais próximos: a mãe da puérpera e o pai do recém-nascido.  
  • O apoio paterno é um importante aliado do aleitamento.  O homem, enquanto pai e companheiro, deve participar da saúde integral da mulher e da criança. Um estudo (...), ao verificar a opinião do pai, concluiu serem todos os participantes a favor da amamentação, por trazer benefícios tanto para o bebê quanto para a mãe. Quando indagados sobre as mudanças ocorridas na vida conjugal, os pais consideram que o ato de amamentar demanda maior dedicação da mulher, refletindo nos afazeres diários e horários de descanso, porém compreendem a sua importância e se comprometem em apoiar. Contudo, a amamentação ainda é, para alguns pais, uma ação centrada no corpo biológico e, consequentemente, pertence apenas à mulher, apoiando a mulher não como pais auxiliadores, mas como pais provedores do lar.

O pai como suporte para a amamentação

  • Dentre todos os entes familiares e pessoas próximas citadas, a presença do pai é o suporte de maior relevância para a  amamentação na perspectiva materna. A influência paterna  é  destacada  como  um  dos  motivos  para  o  aumento  da  incidência e prevalência, ou seja, o pai influi na decisão da  mulher de amamentar e contribui para a sua continuidade.
  • O conhecimento do pai sobre amamentação é imprescindível. Contudo, muitas vezes este ocorre envolto por dúvidas em aspectos distintos, evidenciando a necessidade de intervenção profissional. 
  • O sucesso do aleitamento, contudo, não depende somente da sua presença, mas também da sua atitude. Existe o pai  do tipo atuante, que tem taxa de aleitamento maior que o pai do tipo indiferente. A atuação do pai ainda é permeada  por  incertezas e dificuldades, ao ponto de crianças do ensino fundamental e até mesmo algumas mães relatarem que a inclusão do pai na alimentação infantil se dá através da mamadeira.
  • A prática de amamentar deve ser centralizada na conjugalidade de todos os membros da família, o que direciona para a formulação de políticas públicas de saúde que visem inserir a família, principalmente  o pai, no pré-natal e na atenção à saúde materno infantil como forma de articular e traçar objetivos em comum nas ações dos profissionais.

Percepções paternas sobre a amamentação

  • (...) a melhoria dos indicadores de saúde materno infantil está intimamente ligada à mudança de atitude dos homens
  • o pai apresenta grande potencial de tornar-se um suporte para o aleitamento materno
  • A mãe, geralmente, não é lembrada como beneficiária e, sim, como protagonista. Os pais referem-se a elas apenas como provedoras da alimentação do bebê e não mencionam a rápida involução  uterina,  a  redução  do  risco  de  câncer  de  mama, entre outros benefícios do aleitamento materno para a saúde da mãe, os quais parecem ser desconhecidos ou ignorados.
  • O  fato do ato fisiológico de prover alimento ao filho ser exclusivo da mulher gera nos seus companheiros sentimentos de isolamento e competitividade. Devido a isso, o pai direciona sua busca por informações para temas como a interação pai-ilho, sendo o aleitamento um dos menos procurados.
  • A amamentação ainda está centrada no corpo biológico. Infelizmente, discriminar atributos femininos e masculinos é uma  expectativa também parte da cultura da mulher. Não obstante, é possível encontrar companheiros interessados que referem exclusão não apenas na amamentação como também em todo o processo do cuidar. A aceitação materna do apoio paterno é ponto crucial para que este aconteça.
  • Pais de crianças entre um e 12 meses relataram não terem sido solicitados pelos profissionais no pré-natal, apesar de estarem presentes no serviço de saúde. Ainda que tenham a intenção de apoiar, encontram dificuldades,  como  horários  das  consultas  e  grupos  de  gestantes incompatíveis com os de seu trabalho.
  • A vivência do pai acerca do aleitamento materno é permeada por sentimentos paradoxais. Sentem-se felizes e querem apoiar, simultaneamente sentem-se frustrados e excluídos. Acreditam que a amamentação representa o vínculo afetivo, contudo minimiza sua participação nos cuidados com o bebê. Além  disso,  enfatizam  que  pode  interferir  na  sexualidade do casal. Esta ambivalência se relaciona com o medo do desconhecido: a transformação do núcleo familiar.
  • (...) o pai representa uma influência ímpar na decisão da mulher de amamentar. Entretanto, sua participação na amamentação, até o momento, é permeada por dúvidas, preconceitos e até imposição.  Julgam serem capazes de apoiar apenas por meio de verbalizações positivas e não com ações e mostram-se preconceituosos em relação à exposição pública durante a amamentação. No pós-parto, o desconforto e a insegurança presentes na maioria dos relacionamentos conjugais são mais intensos nos primeiros três meses e podem ser amenizados se discutidos no pré-natal.

Considerações finais

  • Evidenciou-se que a mulher no ciclo gravídico puerperal necessita de apoio social, profissional e familiar, sendo o pai  o  principal suporte.
  • O homem tem atuado cada vez mais em seu papel de pai, acompanha sua companheira aos serviços de saúde e busca apoiá-la da melhor forma. Em contrapartida, os profissionais de saúde não têm se capacitado para recebê-los na mesma proporção. Durante a graduação, os  temas  abordados relativos  ao  aleitamento  ainda  são, primordialmente, sobre técnica,  manejo da amamentação e composição do leite materno, marginalizando os aspectos psicológicos e a inclusão paterna. Apesar  de  todas  as  mudanças  em  busca  da  inclusão  do homem, este ainda encontra dificuldades para compreender as transformações que ocorrem com as mulheres no decorrer de suas vidas, verdade esta observada e confirmada no cotidiano da assistência. O complexo processo de fusão da atenção à saúde aos diferentes membros de uma família ainda é um desafio a ser vencido.

PS: Mulheres que têm companheiros ativos na maternidade/paternidade. Chega disso de que "meu marido é legal porque ele me ajuda". Ajuda subentende favor. Não é favor nenhum cuidar de filho, é o que se espera de gente bacana. O discurso é poderoso, mudando o discurso contribuímos para mudar a realidade. 

Ligia Moreriras Sena

terça-feira, 22 de julho de 2014

13 dicas para você se preparar para a amamentação

Original em Guia do Bebê, por Alessandra Feitosa

A amamentação é um tema que deixa as futuras mamães cheias de dúvidas. Veja como superar tudo isso.

Apesar de ser muito natural, a amamentação pode trazer algumas dúvidas, afinal, trata-se de um aprendizado, tanto para a mãe, quanto para o bebê. Mas, então, como podemos nos preparar para a amamentação?
Não, você não precisa passar aquela bucha vegetal nas aréolas e mamilos, como talvez você já tenha ouvido por aí. Hoje já se sabe que isso acaba com a camada de gordura natural que se forma nas mamas e serve para protegê-las, tornando-as ainda mais sensíveis.A resposta não está nas mamas e sim na cabeça. A melhor forma de estarmos prontas para o aleitamento materno é ter informação de qualidade. Se tivermos a certeza de que podemos amamentar, que nosso leite é o melhor alimento para nossos filhos e que dificuldades podem aparecer mas, com a ajuda correta, elas logo desaparecem, estaremos prontas. 
Mãe amamentando seu bebê - Foto: Dubova / SutterStock
Se você está grávida e quer se preparar para esse momento especial, confira essas dicas:
1. Conheça a importância da primeira mamada
Converse com a equipe que irá atendê-la no parto e diga que você quer amamentar seu bebê na primeira hora de vida. Esse primeiro contato promove a proteção imunológica que o bebê precisa ao nascer, além de ajudar no sucesso da amamentação. Ainda que ele não queira mamar e apenas cheire ou lamba seus mamilos, esse ato ajuda na criação do vínculo entre mãe e filho. 
No contato pele a pele o bebê sente o cheiro e o calor da mãe, regulando sua temperatura, além de estabilizar sua respiração. Um dado interessante: o colo da mãe sobe até dois graus sua temperatura quando o recém-nascido e colocado sobre eles logo após o parto.
Peça para ficar em alojamento conjunto com seu bebê na maternidade. Essa prática faz com que mãe e bebê fiquem juntos o maior tempo possível, possibilitando o contato pele a pele e permitindo que a equipe do hospital possa auxiliá-la tanto na amamentação como nos primeiros cuidados com o bebê. Assim, você pode amamentá-lo sempre que ele requisitar e evita que seja dado leite artificial a ele.
2. Mantenha distância de bicos artificiais
Bicos de silicone, muitas vezes indicados já dentro das maternidades, só atrapalham a amamentação. Eles não permitem que a ordenha seja feita corretamente, diminuindo a quantidade de leite e ferindo os mamilos. Independente do tipo de mamilo que você tenha, não há necessidade de usar um intermediário, porque bebê não mama o bico e sim a aréola, onde estão concentrados os seios lactíferos, conhecidos como “bolsões de leite”.
Chupetas e mamadeiras também são grandes vilões, pois costumam causar confusão de bico, fazendo com que o bebê deixe de querer mamar diretamente no peito. Se, por qualquer motivo, for necessário ordenhar e dar o leite materno de outra forma escolha o método do copinho ou a colher.
3. Tire o foco da balança
Nos primeiros dias o bebê irá mamar apenas o colostro. Os seios ainda estarão macios e o bebê aprenderá a fazer a pega correta. Após 3 ou 5 dias, acontece a descida do leite e os seios ficarão mais cheios.
Todo bebê perde peso no início. A natureza é sábia e, por isso, nós já nascemos com uma reserva de energia. Essa perda de peso é, em média, de 10%, e ele pode ser recuperado até um mês após o nascimento.
Cada pessoa é diferente da outra e os bebês também têm suas particularidades. Por isso, se algum profissional disser que você precisa complementar a amamentação com leite artificial, busque a opinião de um especialista em amamentação que possa ajudá-la a corrigir possíveis problemas de pega e melhorar as mamadas.
E lembre-se: os gráficos de crescimento são feitos baseados em médias e isso significa que é normal, sim, ter crianças acima ou abaixo da média.
4. Aprenda a aumentar a produção
Apenas o ganho de peso não é fator decisivo para dizer que o bebê não está mamando o suficiente. Se ele estiver molhando entre 4 a 6 fraldas de xixi diariamente e estiver “espertinho”, ele estará bem hidratado.
No caso de precisar aumentar a produção de leite beba bastante líquidos, descanse e aumente o número de mamadas. Outro fator fundamental é amamentar ou ordenhar as mamas de madrugada. Temos um pico de prolactina durante a noite e é importante estimular a produção neste período.
Nosso psicológico também influencia muito na produção de leite. Então, se perceber que está vivendo momentos de estresse, peça a ajuda de familiares para que essa situação seja solucionada e você possa voltar a relaxar e a se ocupar com o que você tem de mais importante naquele momento: seu bebê.
5. Conheça as recomendações do Ministério da Saúde
Os bebês devem mamar exclusivamente o leite materno até os 6 meses. Isso significa que até essa idade eles não precisam de mais nada, nem água ou chá. Após esse período inicia-se a introdução de alimentos e a amamentação deve seguir, no mínimo, até 2 anos.
6. Escolha a livre demanda
Hoje já se saber que ter horários rígidos para amamentar não é a melhor opção. Ofereça o peito ao seu filho sempre que ele quiser, pelo tempo que ele desejar. Assim a produção será estimulada e o bebê estará alimentado de forma adequada. Bebês têm a necessidade de sucção, por isso, ele provavelmente irá querer passar mais tempo mamando. Além disso, peito é o acalanto, a segurança e o carinho que ele precisa para entender esse mundo novo.
7. Não tenha leite artificial em casa
Algumas pessoas podem nos dar de presente, na melhor das intenções, uma lata de leite artificial. Agradeça e devolva - ou a dê para alguém que você saiba que já faz uso deste produto. Ter leite em pó próximo da gente pode se tornar uma grande tentação em momentos de dúvida sobre a quantidade de leite materno produzido. Prefira procurar ajuda profissional antes de apelar para este recurso.
8. Ignore conselhos errados
Sim, eles irão aparecer e você pode ignorá-los. Sempre haverá uma mãe, sogra ou amiga que vai te dizer que seu leite não está sendo suficiente e seu bebê está com fome, que chás podem ser dados para aliviar a cólica do bebê e que você está deixando seu filho mimado por permitir que ele fique tanto tempo no seu colo. Também vai ouvir dizer de alguém que se der leite artificial seu filho irá dormir a noite toda porque ele tem é fome. Mas a verdade é que bebês que tomam leite em pó demoram mais tempo para digeri-lo, afinal, ele não foi feito para o nosso organismo. Aliás, não há leite mais adequado para nossos filhos que o leite materno. Seu aparelho digestório ainda não está preparado para receber qualquer outro alimento. Agradeça a dica e a desconsidere.
9. Tenha o contato de grupos de apoio
O pós-parto e o início da amamentação podem ser um momento de muita insegurança e dúvidas. Existem grupos de apoio que nos ajudam a passar por esse momento com mais tranquilidade. Aliás, bater um papo com outras mães e trocar experiências é sempre muito gostoso. Confira alguns deles:

Florianópolis:


Amiga Materna - Caroline Scheuer
http://amigamaterna.com.br/
amigamaterna@gmail.com
48 9669 7179 
48 9141 7179

Mulheres Alfa - Maira Paladino
https://www.facebook.com/GrupoMulheresAlfa
http://www.grupomulheresalfa.blogspot.com/
grupomulheresalfa@gmail.com
(48) 9173 9989
(48) 9691 1701

Apoio Materno - Juliana Sell
http://apoiomaterno.blogspot.com.br/
apoiomaterno@gmail.com
48 9183 0250

Banco de leite - Carmela Dutra
Necessitando de doadoras e de vidros para armazenamento (só podem ser aproveitados os vidros de maionese ou café solúvel que tenham tampa de plástico). 
Para os casos da impossibilidade de deslocamento, a enfermeira chefe, Jaqueline Locks, informa que o leite e os vidros podem ser coletados em casa. 
Basta ligar para o telefone (48) 3251 7552
Fonte: Portal da Saúde


Outros estados:


Amigas do Peito
Rio de Janeiro
http://www.amigasdopeito.org.br/
e-mail: amigasdopeito@amigasdopeito.org.br 
tel: 21-2285 7779

Matrice
São Paulo
http://matrice.wordpress.com/
e-mail: grupomatrice@gmail.com
tel: 11-996223737
La Leche League Brasil
Rio de Janeiro
http://www.facebook.com/pages/La-Leche-League-Rio/228588697232880?group_id=0
tel: 21-2239-0304 e 21- 8116-4141 (falar com Francesca)
Maceió - Alagoas
tel: 82-3325-5710 (falar com Damaris)
e-mail: pmarroquim@ig.com.br
Grupo Virtual de Amamentação
http://www.facebook.com/groups/266812223435061/
10. Saiba onde procurar ajuda
É possível surgirem dúvidas sobre a correta pega do bebê, sobre produção de leite suficiente, fissuras nos mamilos, tipos variados de mamilos (plano, invertido). Mas nada disso é motivo para você deixar de amamentar. Antes de desistir, procure ajuda especializada. Bancos de leite por todo o Brasil têm profissionais capazes de auxiliá-la com dificuldades na amamentação. Você também pode contratar uma consultora em aleitamento materno ou uma doula pós-parto para fazer o atendimento na sua casa. 
11. Eles aprendem rápido
Com o passar do tempo, seu bebê ficará mais eficiente para mamar e aquela mamada que costumava demorar, pelo menos, 20 minutos, será feita em apenas 3 minutos, por exemplo. Não se preocupe, seu bebê terá mamado o suficiente apenas neste tempo. Trata-se da crise dos três meses. Aliás, o mundo estará mais interessante para ele, portanto, ele deixará de querer ficar apenas no peito para começar a observar tudo o que acontece ao seu redor.
Também não se preocupe se seus seios não ficarem mais tão cheios, trata-se apenas do nosso corpo adaptando-se à quantidade que o bebê precisa. Em tempo, a maior parte do leite é produzida durante a mamada.
12. Prepare-se para o fim da licença-maternidade
Você não precisa introduzir leite artificial ou alimentos antes do tempo só porque tem que voltar ao trabalho. Comece algumas semanas antes do seu retorno a fazer estoque de leite materno congelado. O leite materno tem duração de 15 dias no freezer.
Você pode fazer a ordenha manualmente ou com o auxílio de uma bomba. Já existem alguns lugares que oferecem o aluguel delas.
13. Amamentar é prazer
Passados os problemas dos primeiros dias, o aleitamento materno torna-se um grande prazer, tanto para a mãe quanto para o bebê. Amamentar é dar o melhor alimento que ele poderia ter e dar, também, carinho, segurança e conforto. Infelizmente ainda vemos muitos profissionais da saúde desencorajarem o aleitamento materno prolongado (após os 2 anos). Mas saiba que não existe hora certa para o desmame. Esse momento deve ser decido entre mãe e bebê.
Alessandra Rebecchi FeitosaAlessandra Rebecchi Feitosa
Doula Parto e Pós Parto - Consultora em Aleitamento Materno

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Agenda de atividades:

A Hora do Mamaço - Floripa

Sábado, dia 02 de agosto às 15 horas
Parque de Coqueiros
Evento no facebook

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Encontro Gestar

Próximo encontro Gestar traz o tema amamentação.

Dia 24/07, às 16 horas, na Aldeia Indigo Centro Multicultural

Não perca!!



A recomendação da Organização Mundial da Saúde, apoiada em pesquisas que se renovam constantemente nos últimos vinte anos, é de que todas as crianças, ricas ou pobres, de qualquer etnia ou religião, mamem somente leite humano nos primeiros seis meses de vida, passem a receber outros alimentos como complementos a partir dos seis meses e sejam mantidas no peito até pelo menos dois anos de idade. Os benefícios se acumulam a cada pesquisa.

A realidade é bem diferente. No Brasil, apenas 41% dos bebês chegam aos seis meses mamando exclusivamente. Esse índice, que também é uma média mundial, compromete outro: o da mortalidade infantil entre menores de cinco anos. Segundo a OMS o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e prolongado até os dois anos, é capaz de diminuir em até um quinto as mortes entre crianças menores de cinco anos. Para qualquer criança, o leite humano é o melhor digerido, contém proteínas específicas, hormônios humanos e imunoglobulinas que protegem as crianças de infecções variadas, diarreias e alergias. A composição do leite humano não é estática, ela muda conforme as fases do bebê, de acordo com as necessidades de crescimento.

(Trecho do artigo "Leite de mulher, tabu a ser vencido" - Cláudia Rodrigues)

O aleitamento materno está cercado de dúvidas, inseguranças e mitos, e pode não ser nada fácil ou simples. Por isso convidamos você a participar desse encontro com a presença das voluntárias Gestar Carol Scheuer (Amiga Materna) e Maira Paladino (Mulheres Alfa).

Estaremos esperando por você!!

Traga sua família e esclareça suas dúvidas...


Confira no facebook

domingo, 20 de julho de 2014

O nascimento de Teresa

Original em doseupai
Por Pedro Fonseca


Teresa,

eles não fizeram por mal.
O médico que disse à sua mãe, em julho, quando ela estava com apenas quatorze semanas de gestação, que deveria "marcar logo o parto para o dia 1º de janeiro de 2014". A vizinha que, no elevador, afirmou que "no caso da sua mãe era pior". O casal que perguntou, todos os dias: "para quando é?". A moça do laboratório que insistiu, três vezes seguidas, queria saber se era isso mesmo, se havia entendido certo que "sua mãe vinha de duas cesáreas e agora decidiu por um parto normal". Todas as médicas plantonistas do Hospital São Luiz que, no último domingo, fizeram questão de demonstrar sua "preocupação" pelo "histórico" dos últimos partos da sua mãe. Nenhum deles fez por mal, filha.

Julho de 2013

Tive muito medo quando, ao deixar o consultório médico, notei o silêncio atípico na sua mãe. Ela poderia tentar disfarçar o caminho inteiro, mas precisei de uma única curva à direita. Tudo bem? –perguntei. Achei um absurdo marcar o parto hoje, quando ainda nem sabemos como será a gravidez. Nos outros partos, nós marcamos data –eu disse, sem ainda entender para onde estávamos indo. Não quero isso –sua mãe estava silenciosamente transtornada. Não quero isso, repetiu. As palavras do médico ecoavam na minha cabeça. "Ela vem de duas cesáreas, Pedro,
é perigoso tentar um parto natural".
Perigoso e Pedro, aqui em casa, são duas palavras impossíveis de constar na mesma frase. Envolvendo qualquer um de vocês. Mas com sua mãe, veja bem, filha, mas com sua mãe elas não podem sequer habitar o mesmo parágrafo. Sua mãe é a razão disso tudo aqui, o nosso elo mais importante, o que permite a nossa existência nessa forma harmoniosa que você e seus irmãos conhecem. Sua mãe, em perigo, somos nós, em perigo ainda maior. Sem ela, não somos nada. As palavras do médico ecoavam na minha cabeça, no meu fígado, no meu estômago. Adoeci várias vezes durante a gravidez. Fiquei frágil. Tive medo. Todos os dias, com a decisão de seguir para um parto natural, tive muito medo. 
O maior inimigo do medo, entretanto, teve encontros comigo diariamente, em segredo. E aqui deixo o segredo de lado para dividir o que é preciso.
 
Dezembro de 2013

Betina Bittar foi a médica escolhida por sua mãe para acompanhar a gravidez. Betina é uma médica, mas poderia ser uma amiga daquelas que vem aqui em casa comer o nosso famoso Cozido do sábado. Ela é das nossas. E nos foi recomendada por pessoas em quem confiamos demais. Ainda na primeira consulta, fiquei espantado com a sua serenidade diante daquilo que, para mim, era motivo de tanto medo. Pode acontecer algo com Lua, Betina? Pode. Mas pode acontecer no carro, a caminho de casa. Digo, pode acontecer algo por conta das cesáreas? Pode. Mas poderia acontecer mesmo que fosse a primeira gravidez. Em dezembro, depois de vários momentos assim, ela disse a frase que tanto esperei. Ela olhou para sua mãe, durante uma consulta, e disse: "parir é perder o controle".
Passei a gravidez inteira formulando essa frase (e imagem) que Betina traduziu. Minha forma de, secretamente, espantar o medo tinha sido criar a certeza de que nada podemos controlar – e que, diante disso, deixar que as forças maiores ajam por conta própria (aqui falo da poderosa possibilidade de dar à luz, de reinventar a existência humana, de dar um passo à frente –real– e de mudar, ainda que por segundos, a percepção de tempo diante do Universo). Se há um deus, filha, ele é uma mulher grávida.

Sábado, 25 de janeiro de 2014

Logo cedo, sua mãe avisou que sentia cólicas. Pequenas cólicas. No final da manhã, eram contrações leves, segundo ela. Entenda: estudei pouco inglês, pouco espanhol e pouco francês. Grego, não. Isso para mim é grego. Sou incapaz de entender uma contração. Por isso assisti a tantos vídeos de parto na reta final da gravidez. Muitos amigos diziam (e eles também não fizeram por mal) que a mulher virava um monstro. Ela vai te xingar. Ela vai querer te bater. Ela vai aproveitar para colocar para fora todas as dores. Estava pronto para uma tsunami humana. Mas o que veio? Sua mãe, de novo, me ensinando tudo. Diante do aumento da intensidade e frequência das contrações, ela ficava mais concentrada para o momento DELA (odeio levantar palavras, assim, no texto, me perdoe a deselegância, filha, mas explicarei logo mais). E foi assim durante todo o sábado, aniversário da cidade de São Paulo, 25 de janeiro. Sua mãe concentrada, cada vez mais. Até que por volta das 23h, Celine (doula) chegou na nossa casa. Depois, Priscila (obstetriz). Depois, sua avó, Lydia - que soube das contrações pela manhã, em Recife, e na madrugada de domingo já estava ao lado da sua mãe. Estava tudo pronto. Você estava pronta. Sua mãe estava pronta (mas isso fazia mais tempo).
 
Domingo, 26 de janeiro de 2014
 
Chegamos no hospital às 8h e enfrentamos uma legião de caretas, resmungos, cochichos e, por fim, má vontade. Mas aí, filha, já era. Você tinha decidido nascer. E sua mãe tinha decidido ter um parto natural. O momento DELA (falei que ia explicar, aqui vai).

O momento DELA

Descobri, depois desses meses, dias, horas, minutos tão especiais que, no fim das contas, o parto é um momento muito simples, rápido, maravilhoso.
É o menor limite possível entre a vida e a morte. Ali, no segundo que separou você da vida aqui fora, filha, todos os relógios pararam. De um lado, o risco de algo dar errado. A morte. O nosso eterno medo diante do inevitável. Do outro lado, a chance de dar certo. A vida. O nosso eterno medo diante do desconhecido. Só que entre o inevitável e o desconhecido estava a sua mãe. E ela quis que fosse assim.
E orquestrou a valsa intensa.
Morreu a dor.
Nasceu o grito.
Morreu a lágrima.
Nasceu o sorriso.
Morreu o tempo.
Nasceu a pausa.
Pausa.
No segundo que a separava de nós, aqui fora, o momento DELA, da sua mãe. Nem eu, nem Betina, nem Celine, nem Mayra. Apenas a sua mãe, naquela sala, poderia fazer o que fez. E fez.
Nasceu você.
O seu nascimento, filha, é a morte da descrença, do medo, da inércia, do pessimismo. Você nasceu para a gente se despedir do controle. Parir é perder o controle. Perder o controle é viver em paz. Sua mãe nos deu você, você nos deu a paz. Obrigado, filha.

Terça, 27 de janeiro de 2014

Ao chegar em casa, você dormia. Assim que acordou, levamos Irene e João para vê-la. João havia visitado vocês no hospital. Estava sensível, emocionado com a sua chegada. Ele é o melhor irmão mais velho que você poderia ter, Teresa. Agradeça todos os dias por isso, ao Universo. Irene, que ainda não havia visto você e sua mãe ao mesmo tempo, ficou encantada, maravilhada. Os olhos brilhavam as mãos inquietas querendo acreditar na sua existência e na ausência misteriosa da barriga da sua mãe. Apontava para você, mostrava a quem estivesse por perto: nenê, nenê, nenê! Irene vai ser o melhor abraço que você irá receber, pode anotar isso aí no seu moleskine. Juntos, vocês três, em cima da cama, se curtindo, desenharam a razão das nossas vidas.

Por fim, filha, um pedido de pai. Sabe aquelas pessoas que duvidaram de tudo? Que cogitaram explicações científicas para que sua mãe não tivesse um parto normal? Sabe a vizinha desavisada? As médicas descrentes? Os amigos das verdades absolutas? A moça do laboratório? Eles não fizeram por mal. Sempre que cruzar com eles, conte como veio ao mundo. Aliás: conte como você e sua mãe fizeram o mundo parar, por um segundo, para repetir o milagre que acontece cada vez que resolvemos fazer algo em que acreditamos verdadeiramente.

Do seu pai,
Pedro.