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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Elas pedem ajuda, não cesárea!

Especialmente aos profissionais da assistência ao parto, entendam de uma vez por todas, porque um pedido de cesárea muitas vezes é um pedido de ajuda.
Uma história de parto normal após 2 cesáreas, e hospital que tem mais de 98% de cesáreas! 
Por Bráulio Zorzella, Obstetra em Jaú
Ela chegou gritando e esperneando como se estivesse sendo torturada… A conheci hoje, no plantão de retaguarda da maternidade que tem 98% de cesáreas pelo SUS, restanto os 2% de Parto Normal dos dias que estou de plantão, isso mesmo
que ouviram 98% de cesáreas pelo SUS!
Ela com 23 anos, terceira gestação, 2 cesáreas anteriores, 38 semanas, bolsa rota e 5cm de dilatação, colo finíssimo, apresentação baixa. A mãe chorando e as duas juntas pedindo “PELO AMOR DE DEU DOUTOR, FAÇA UMA CESÁREA”. Sentei ao seu lado no pré-parto, apaguei as luzes, pedi pra enfermagem sair (nesse hospital elas não tem a mínima prática com PN). Entre as contrações ela acalmou-se porém durante elas virava bicho e não ouvia nada, se contorcendo e gritando que o médico do pré-natal falou que ela não podia ter parto normal de jeito nenhum pois no caso dela era impossível! Perguntei se ela já quis algum dia ter PN e ela disse que sempre quis mas os médicos sempre falaram que ela não podia. No primeiro bacia estreita, no segundo não dilatou e agora pois já tinha 2 cesáreas.
Insisti mais um pouco em tentar acalmá-la e explicar os possíveis benefícios do bebê nascer natural, mas foi em vão naquele momento. A enfermagem e a pediatra me olhando com olhos de “oque vc está esperando pra chamar o anestesista pra cesárea?”. Falei em voz baixa PARA O BEBÊ NÃO OUVIR: “Liga pro anestesista e diga que teremos uma cesárea!” Percebi que contentei a todos nesse momento. A paciente, a mãe, a enfermagem e a pediatra. Chegou o anestesista que não viria para uma analgesia de parto se eu chamasse, mas… pedi que fizesse uma dose menor apenas para tirar a dor mas que não seria cesárea!
Todos se assustaram…”Como assim? Com 2 cesáreas anteriores? Aquele olhar de “ele deve estar louco!”. Anestesia feita, a dor passa, suficiente pra EU CONSEGUIR CONVERSAR COM ELA: “E agora, está bom pra vc assim? A dor melhorou? Seu problema está resolvido? Vamos resolver o do bebê agora. O bebê está super bem, e me disse que está querendo muito nascer de parto normal. Ele não sabe ainda que vai ser cesárea. Ele está na posição e quase saindo e vc tem a passagem ótima pra ele, vamos tentar ou se preferir ainda posso fazer a cesárea”. Ela me olhou, arregalou os olhos ao mesmo tempo que veio um puxo e começou a fazer força…Ela sorriu e percebeu que podia… Fez mais força e se empolgou! Na terceira ele nasceu perfeito e com nota 10 do pediatra. Foi ao colo da mãe que o beijou muito dizendo: Sempre me falaram que eu não ia conseguir! Não acredito que consegui fazer isso!… Caros cesaristas de plantão: elas pedem ajuda e não cesárea!!”
Com a colaboração da querida obstetra Carla Polido de São Carlos,  seguem links para os resumos dos artigos:
“A grande diferença nas taxas de cesarianas no país é devida a um grande número de cesarianas indesejadas na saúde suplementar”. Potter et al., BJOG, dez 2001
“Médicos no Brasil interpretaram algumas declarações de mulheres em trabalho de parto, como dor ou longa duração do processo, como solicitações de cesariana.” Potter, Faúndes et al, 2008, BIRTH

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